quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A Boa Acção



A boa acção estava como sendo um dos principais objectivos do escoteiro.
O ajudar o próximo em todas as circustências, prometido no momento da cerimónia de honra, vem relembrar que, embora temos de cuidar de nós, também necessitamos de auxiliar os outros em qualquer situação.
O andar na rua de uniforme, com o chapéu BP, implica o respeito e o cumprimento desta regra, embora, mesmo sem o uniforme deveremos ter sempre essa ideia latente e ajudar toda a gente.
Muitas vezes era abordado por pessoas a pedir ajuda, infelizmente, nem sempre consegui ajudar, mas sempre que estava ao meu alcance ajudava.

Eu, muito devido aos meus princípios morais, também construidos por estes 10 anos de actividade escotista, respeitava ao máximo, tanto a minha promessa, como as leis do escoteiro, e assim, cumpria a boa acção, que mais mais do que a boa acção diária.
Ainda hoje tento cumprir com esse objectivo, e já passaram uns aninhos...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A promessa



Para terminar um processo de formação ou em qualquer alteração que se realize, é necessária a investidura ou promessa. A minha realizou-se em Tomar, por altura da festa dos Tabuleiros.
Sexta-feira saímos de comboio rumo a Tomar, onde chegamos já bem de noite. Lá esperava-nos o grupo 69 de Tomar, que nos iria receber. Não iamos fazer a promessa sozinhos, mas também com elementos de outro grupo. Tinhamos outras funções, que passavam também por "patrulhar" as ruas decoradas com flores, a fim de se evitar danos por acção de vandalismo.
Nesse sentido nada tivemos a registar.
A minha cerimónia foi realizada na mata dos 7 montes, onde também se localizava a sede do Grupo 69 de Tomar. Não me recordo quantos eramos a fazer a promessa, do meu grupo eramos 2 mais umas quantas investiduras por passagem de divisão.
O espaço ficou-me na memória, pois permtia, que em forma de anfiteatro, todos visualizassem as cerimónias.
Chegou o meu momento, estava nervoso, não digo que não, mas recordo-me que não me engasguei, e fiz a promessa de honra às bandeiras de Portugal, da AEP e dos Grupos 47 (o meu) e do Grupo 69.
Após a promessa foram-me colocados os emblemas, as jarreteiras, o lenço e por fim o chapéu, que por acaso não era o meu, pois este ainda era mais pequeno do que o meu, ficando-me apenas apoiado sobre a cabeça. Concluindo, o meu chefe trocou os chapéus, ficando o meu enfiado pela cabeça do meu colega, que mal consegui ver o caminho, com o chapéu a tapar-lhe a vista...
Passado isto existe a praxe do lenço...
Recordam-se daquele jogo, menos engraçado, pelo menos para quem está no meio, que é o corredor da morte? Pois era mais ou menos isso, mas com o uso dos lenços de escoteiro...
Passada a cerimónia foi festejar o momento e voltar à patrulha nas ruas de Tomar.
Foi um fim de semana bastante longo, pois não se dormiu muito. A viagem de regresso no comboio foi feita a dormir...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A compra do Chapéu

Passados alguns meses de estar no movimento, e após ter concluido a minha formação inicial de escoteiro, ou seja, depois de ter concluido a 3ª Classe, tive o meu momento de investidura. Mas para esse momento se realizar tive de comprar o uniforme, que naturalmente incluía também o chapéu BP.
Recordo-me em parte desse dia, pois já lá vão uns 15 anos e a memória não regista tudo...
Estava sol e calor, pois era um dia de verão. A primeira coisa que comprei foi o chapéu BP, no depósito de material do CNE, onde era mais barato, lembro-me que rondava os 10 contos, passei noutras lojas, mas aí ainda eram mais caro, cheguei a encontrar ao dobro do preço... Depois passei numa loja de fardamento, alí no Cais do Sodré e comprei a camisa e as calças e por fim os restantes acessórios e emblemas no depósito de material da AEP.

Na compra do chapéu foi feita uma pequena procura no mercado, mas já eram poucas as chapelarias em Lisboa, e o preço mais baixo que encontrei foi mesmo no depósito do CNE.
Mas a história da compra do chapéu não fica por aqui. Os chapéus têm tamanhos, tal como o calçado, experimentei vários tamanhos e logo por falta de sorte não havia o meu tamanho.
Tinha duas opções, ou comprava um que não era o meu tamanho, ou comprava um quase ao dobro do preço, visto que a solução de não levar chapéu estava fora de consideração...
Como o dinheiro não abundava, optei por um mais pequeno, mas que poderia alargar com o tempo.
Com o tempo alargou, devido aos maus tratos que recebia...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Chapéu BP - Mau uso


Durante todos estes 10 anos o meu chapéu BP foi muito mal tratado. Sem falar dos outros usos que lhe eram dados, ó próprio modo de como era arrumado ou encafuado, o modo como era transportado e também de como era cuidado.
Lembro perfeitamente do modo como o guardava em casa, dentro do armário, junto a outros tantos chapéus, bonés e boinas, por vezes todo torto.
Na maior parte das actividades, recorria a guardar o chapéu dentro da mochila, que dependendo se tivesse muito ou pouco cheia, o chapéu ficaria mais ou menos compactado e naturalmente todo deformado.
Alterei-lhe várias vezes o formato, reduzindo o número de vincos para 3, ou simplesmente deslocalizando-lhe os vincos.
Com as chuvadas que apanhou, começou a ficar naturalmente deformado, que adicionado a todos os restantes maus tratos que recebia, ainda ficava pior...
Perdi o emblema e no bico da copa começou a romper-se e cheguei a ter um buraco com uns 4 cms, durante muito tempo, até que um dia comecei a tratar melhor o chapéu, coloquei-lhe um emblema novo, tentei endireitar-lhe as abas, recorrendo a um ferro de engomar e reparei o furo com um pouco de tecido no interior, agulha e linha.
É claro que alguns dos danos que o chapéu sobreu, não eram reparáveis, mas também são marcas da vida daquele chapéu, por tudo que passou, por tudo o que eu passei, é um registo das minhas memórias, é um registo de 10 anos da minha vida...

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O chapéu B.P. - Usos menos comuns

O meu chapéu foi usado para muitas outras coisas, para além de me identificar como escoteiro, ou de me proteger da intempérie.
Serviu para transportar objectos, que divido à sua quantidade e tamanho não conseguiria transportar nas mãos ou nos bolsos.
Serviu para transportar água em muitas situações, recordo-me de vários fogos, felizmente de pequenas dimensões, que auxiliei a extinguir, transportando alguma água.
Serviu também para fazer o inverso, atear fogo na fogueira.
Serviu para sinalizar e identificar os locais de acamapamento.
Foi usado como venda.
Tantos outros usos que lhe dei, sem ser o uso de chapéu propriamente dito.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

O chapéu

O chapéu do escoteiro, também conhecido com "chapéu B.P.", é um chapéu de aba larga, também conhecido por chapéu pralana, é fabricado em feltro. O feltro pode ser fabricado com a lã ou com pelos de outros animais, que são compactados, com o recurso a uma calandração. podem ser usados pelos de coelho, lebre, carneiro, entre outros animais. O feltro é moldado num forma/prensa aquecida para o conformar, em seguida são feitas 4 vincos, que resultam de 4 amolgadelas na parte superior. Tem uma cinta com fivela na zona de união da aba e uma correia, ajustável, que se usa na nuca, e não no pescoço. A cor para o escoteiro é o castanho, embora se encontre este chapéu com diversas cores, basta trocar os corantes na tingidura. Algumas associações de escoteiros usam também um emblema fixo à fivela do chapéu, ou à frente ou de lado.

A origem deste chapéu remota ao tempo dos criadores de gado e lanhadores europeus, que o levaram para a américa e áfrica.
Foi o chapéu escolhido por Baden-Powell (fundador do escotismo) para o uniforme do escoteiro devido às suas características protectoras, sendo impermeável e de abas largas, tanto protege da chuva como do sol.
Baden-Powell usou este chapéu durante muitos anos, foi militar do exército Britânico na guerra Ânglo-Boer (África do Sul - final do séc XIX), sendo usado por diversas forças policiais, militares, criadores de gado, lenhadores, etc.

Começou a ser usado e associado ao es
cotismo a partir de 1907, caindo um pouco em desuso na década de 40, quando o escotismo francês cresceu, adoptando-se a boina, também usada pela mocidade portuguesa. Na década de 70 quase que não se fala no chapéu B.P., sendo que só na década de 90 é que o chapéu reaparece, sendo neste momento um elemento obrigatório no uniforme escotista.



O chapéu de escoteiro tem um modo próprio de se usar, a correia é usada na nuca e o ajuste da correira é feita em cima da aba, na frente do chapéu, recorrendo-se a um nó de pescador para ajustar o comprimento da correia.


Dependendo da associação é usada uma insígnia, que nos identifica com o escotismo.



O chapéu faz parte do uniforme e só depois de cumprir com um determinado número de régras é que podemos ser uniformizados, ou investidos escoteiros.


Primeiro existe uma série de conhecimentos que têm der ser comprovados junto dos dirigentes, quer a nível de formação pessoal, como escotista. Este processo de formação dura aproximadamente 6 meses, recorrendo-se ao livro "Escotismo para Rapazes" escrito pelo fundador, para orientar esta formação, o livro é composto por capítulos, também conhecidos por "palestras de bivaque", ao se seguir uma palestra por semana, consegue-se facilmente concluir a formação nos 6 meses e ficar preparado para a formação seguinte.


Após a conclusão da formação, que inclui não só a formação teórica, mas também a formação prática, aplicada em acampamentos e actividades, o escoteiro encontra-se apto para realizar a promessa, ou cerimónia de investidura. Neste momento o escoteiro compromete-se por sua honra amar a Deus (ou a outra confição religiosa, ou a família) e a Pátria, ajudar o próximo em todas as circusntâncias e viver segundo a lei do escoteiro. Apartir deste momento são-lhe colocadas as diversas insígnias, o lenço de escoteiro e o chapéu B.P. .


Apartir deste momento o escoteiro está investido e pode usar o chapéu B.P..

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Associações à religião




Devido à existência de vários corpos associativos escotistas, sendo que um deles está intimamente ligado à igreja católica portuguesa, os escoteiros sempre sofreram uma natural ligação à igreja, e apenas quem conhece o meio é que consegue identificar as diferenças entre as associações. Os escoteiros (ou escuteiros) do C.N.E. (Corpo Nacional de Escutas), carinhosamente chamados de "quenés" estão ligados à Igrreja Católica Portuguesa, sendo que é uma obrigação para se estar no grupo, é ser-se católico. Já na A.E.P. (Associação dos Escoteiros de Portugal), não existia qualquer tipo de obrigação religiosa, havendo apenas alguns grupos que assumiam-se apenas com uma única confissão religiosa, tal como Ismaili, Mulçumana, ou outras.
Na A.E.P. cada um tinha a liberdade de escolher a sua religião, era apenas "obrigado" a respeitar e compreender que cada um tinha o direito de fazer a sua escolha.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A anedota


O ser escoteiro e usar o chapéu, não era apenas uma brincadeira, era algo mais sério, fazia-nos automaticamente membros de uma "tribo urbana" que podia ter membros de outras "tribos urbanas". Naturalmente, o ser-se diferente e assumir-se como tal, no meio de uma sociedade bastante preconceituosa, torna-nos num alvo fácil de chacota.

Adivinha:
"O que é um escoteiro?"
"Um escoteiro é um menino, vestido de parvinho, chefiado por um parvinho, vestido de menino..."

De facto o uniforme, composto pela camisa, calções, meias até aos joelhos, jarreteiras, todos aqueles emblemas e o chapéu, era algo só para alguns, aqueles que tinha a coragem de vestir assim, passar no meio de outras "tribos", ouvir as provocações e responder com um sorriso ou com a questionar se queria também entrar no movimento.
Mas todo aquele traje era caro, lembro-me que só o chepéu custava 12 contos, o que era muito para um miudo de 14 anos. Claro que eram os pais que acabavam por financiar esta actividade dos filhos. Além do uniforme tinhamos as cotas semanais, nas patrulhas, que usavamos para comprar o equipamento da patrulha, ou mensais para as despesas do grupo, bem como as anuais para despesas das associação e seguros, mais as actividades, que por vezes tinha orçamentos maiores, pois implicavam deslocações mais longas, quer no espaço como no tempo. Concluindo, ser escoteiro não era apenas para quem queria, mas também para quem podia, naturalmente que tinhamos no grupo crianças com maiores carências, mas que naturalmente não participavam em todas as actividades, nem tinham o uniforme completo...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A escola


Vive e aprende, não só dos teus erros, da tua experiência, mas também com os erros dos outros, era esta uma das mensagens transmitidas pelo fundador do movimento, não dediques a tua aprendizagem somente à tua experiência, usa também o estudo, a observação.
Aprender a observar era um dos pontos muito importante na base da formação escotista, desde do recurso a jogos à formação propriamente dita, com workshops ou ateliers de desenvolvimento.
O tema mais conhecido para abordar este assunto era o jogo de "Kim". Este jogo de observação consiste em colocar em frente do jogador observação, 20 objectos durante 20 segundos, durante este tempo o observador deveria memoriazar, com recurso à observação, os objectos, em seguida os mesmos eram tapados e o jogador teria que descrever os objectos, não só pelo seu nome, como também pelas suas característica. Quem consegui descrever melhor os objectos era o vencedor do jogo.
Além do recurso à observação, usava-se também a passagem do conhecimento em cadeia, ou em árvore, ou partilha, sendo o conhecimento passado não de um para todos, mas em árvore, que os chefes recebiam a formação no exterior, depois entre eles, depois deles aos guias das patrulhas e dos guias das patrulhas aos restantes escoteiros, sendo que os escoteiros com mais experiência e com mais conhecimentos também naturalmente a partilhavam com os restantes membros, da patrulha, tribo ou grupo...

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

1º de Abril de 1994

Podia ser simplesmente mais um dia das mentiras, mas não, foi o meu primeiro dia no movimento escotista e naturalmente, foi o meu primeiro contacto com o objecto que dá nome a este blog, o chapéu de escoteiro, o chapéu "B.P.". Até então não conhecia nenhum escoteiro, nem tinha estado junto de um, pelo menos que tenha na minha memória. O mais próximo que teria estado teria sido na televisão, numa série documental que dava na RTP aos sábados de manhã, isto no final dos anos 80, nas bandas desenhadas da disney, ou possivelmente na rua, em breves encontros, sem qualquer tipo de partilha de conhecimento.
No final da década de 80, naquela que seria a minha a idade de lobito (6 a 10 anos), tinha tentado convencer a minha mãe a me deixar ir para os escoteiros, mas que naturalmente não cedeu aos meus pedidos.
Passados alguns anos, o meu irmão, que tem mais 11 anos do que eu, conheceu o chefe do grupo para onde fui, o que facilitou muito o processo, sempre tinha alguém de casa a poder acompanhar de um pouco mais próximo as minhas caminhadas e formação de escoteiro, para ajudar a convencer a minha mãe, que só me fazia bem entrar para o movimento.
E assim foi, a sede do grupo de escoteiros localizava-se aproximadamente a 3 quilometros de minha casa, numa preceta que tinha um pequeno parque infantil, herdado dos anos 80, onde ainda não existia a preocupação pela segurança dos equipamentos, onde já vão esses anos...
A sede era um barracão, tivera sido usada por outras colectividades desportivas, recreativas e não só, mas naquele momento era a sede do grupo de escoteiros.
Como sede do grupo, foi este o primeiro espaço próprio, pois desde o momento da sua criação, no ano de 1974, nunca tivera um espaço próprio, ora vivia num canto de outra associação, ora em vãos de escada, ora em arrecadações de alguém, até na rua se reuniu, mas naquele momento tinha uma sede própria.
Este barracão estava dividido como o grupo, tinha 4 espaços, sendo que 1 destes espaços era dividido com 2 divisões. a sala maior e principal, era ocupada por 2 divisões, às tribos, sénior e júnior. Havia duas salas mais pequenas, uma destinada ao clã e outra à alcateia. Por fim tinhamos um espaço, que teria sido em tempos um bar, aqui era usado para arrumar o material do grupo e a documentação da chefia.
Voltando ao primeiro dia, quando entro na pracete, vejo perto de 30 escoteiros, numa reunião, a tentar relembrar uma actividade passada, a recordar momentos de animação e formação.
Aquele uniforme de camisa caqui, calções castanhos, de meias até aos joelhos, com as jarreteiras penduradas e o chapéu de aba larga, foi algo que me fascinou durante alguns anos da minha vida, e naquele momentos esta próximo de realizar um sonho de infância, estar num grupo de escoteiros, ser escoteiro...


domingo, 31 de janeiro de 2010

O meu chapéu BP!


Olá!

Mais do que um exercício de antropologia e cultura material, este blog tem como objectivo perpetuar as memórias que orbitam em torno de um objecto que me acompanhou durante 10 anos da minha vida.

Embora actualmente se encontre guardado dentro de um armário, o mesmo simboliza para mim muito, não só em memórias de acontecimentos, como na construção minha personalidade e identidade.

Aqui vou tentar registar as minhas memórias, descritas, fotografadas, desenhadas, filmadas, serão momentos de expressão plástica, sem recorrer ao objecto em si.

Irei cruzar não só as minhas memórias, como tentarei usar memórias de outras pessoas.

Será feita uma análise morfológica do chapéu, na tentativa de identificar as suas origens, naturalmente esmiuçarei, no que estiver ao meu alcance, todas as interpretações mais globais da utilização desde chapéu, mas sem nunca esquecer, o meu chapéu BP.

Um muito obrigado.


Saudações!